Infância capitalista

 

Quem tem contato com criança saberá do que estou falando. Pergunte para esta criança se ela sabe o que é Playstation. Raramente uma dirá que não sabe e a maioria já tem um em casa. Aquela criança que não tem quer ter. Isso prova a intensa influência da mídia sobre as crianças. Muitas ficam tristes e até depressivas porque não tem aquele brinquedo que acabou de sair ou aquele sapato que faz algo inusitado.

E a mídia não faz questão de esconder sua ânsia pela total “dominação” da cabeça dos pequenos. Eles são induzidos a comprar algo porque “todo mundo vai querer ter um igual” ou porque é “sensacional”. Eles são incentivados a quererem coisas que se tivessem anteriormente não dariam valor. As propagandas e projetos publicitários agem através da idealização dos produtos e do medo, já que a criança se sente excluída por não ter algo que todos seus colegas tem.

A TV é outra que contribua para a criação da “infância de comércio”. Nos programas infantis, são oferecidos prêmios a torto e a direito. No Bom Dia e Companhia, do SBT, um dos prêmios é uma quantia de 1000 reais. Esse é uma dos opções mais requisitadas pelos telespectadores mirins. As crianças estão cada vez mais instigadas a ter dinheiro e lhe dão valor maior que o normal.  Outro exemplo que me deixou pensativo foi um vídeo de um antigo programa da Xuxa. A criança lhe escreveu que ela queria ganhar uma viagem para a Disney World, mas que se ela não fosse, ela desejaria que as crianças que fossem ao parque ficassem felizes. Ou seja: se ela não ir, ela não é feliz. Uma situação de horror saber que uma criança precisa de coisas materiais para ficar feliz e que, sem isso, ela seria triste. O bem físico superou o afeto e o amor. A regra é “quem tem mais é mais feliz”, infelizmente.

Na minha época, ganhar 50 centavos era motivo de festa… E ninguém pedia mais.

Não sabia o que era berlinda

Ontem assisti ao BBB, não pelo programa, mas pelo Bial que, apesar de estar meio atrevido nesta edição, ainda é um ótimo improvisador. Percebi então que um termo usado muito lá não era de meu conhecimento: berlinda. Pelo contexto, dava-se para entender que “estar na berlinda” e estar no foco e ouvir alguém falando sobre você. Mas eu queria entender claramente da onde veio isso. Pesquisei e eis o resultado:

Berlinda é um jogo infantil, onde todos fazem uma roda e uma pessoa é escolhida para ser o centro das atenções e todos opinam sobre ela, escrevendo em um papel, sem assinatura,e colocando-se este papel em uma urna, e a pessoa fica assim, sabendo o que pensam sobre ela.

Agora sim entendi. Não tenho certeza sobre a relação da brincadeira com o objeto real, que está neste resultado:

Berlinda é um pequeno coche de quatro rodas suspenso por dois varais.

Imagino que seja por estar no meio das atenções ( estar num veículo desse chama muita atenção) e pela transparência de seus lados.  Deve ser isso.

Mais um serviço de inutilidade pública deste blogueiro.

Eu recomendo

Estou lendo “Bete Mendes: o cão e a rosa”. Para o livro ser feito, foram realizadas 12 horas de entrevistas exaustivas feitas pelo jornalista Rogério Menezes. O texto é em forma de depoimento e Bete conta vários detalhes de sua vida: começo como atriz, começo na TV, as reuniões com os movimentos de guerrilha, sua infância e mais ( preciso terminar o livro!). É uma ótima pedida. Leitura fácil e de acesso a todos.

Respeito ao torcedor

Retirado da capa do Jornal da Tarde de hoje:

Isto já deveria ter acontecido antes. Muitos torcedores ativos já reclamaram e várias reportagens foram feitas sobre isso. O jogo só vai até tarde porque a TV Globo estabelece seu horário(do jogo) para encaixar em sua grade de programação. O jogo termina tarde e quem pagou para ver o jogo não tem alternativa nenhuma de transporte público. Que a Globo se encaixe no horário do jogo e o povo não fique dependendo da TV para tomar decisões da organização dos campeonatos.

Fenômenos – e não tem nada a ver com o Ronaldo

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Na imagem, várias opções de vídeos do show na seção “Vídeos Relacionados”; reparem nas câmeras filmando na parte de baixo do vídeo.

O Youtube hospedou centenas de vídeos dos shows de Beyoncé no Brasil.  Isso foi possível através das inúmeras câmeras amadoras que registraram as performances da cantora durante seus shows em 3 cidades brasileiras: Florianópolis, São Paulo e Rio de Janeiro. O próximo show ocorrerá em Salvador, no dia 10 de fevereiro, junto com a estrela brasileira Ivete Sangalo. E o que não deverão faltar serão os cinegrafistas amadores apontando suas lentes fatais.

Os vídeos amadores ou caseiros se proliferam na internet mais rápido que larva de mosquito da dengue. Quebrando qualquer direito a imagem, usuários publicam suas “obras-primas” como, por exemplo: brigas de escola, imitações de pessoas notórias e pessoas se sujeitando a humilhações, algumas vezes sem saber que estão sendo filmadas.

A internet já criou vários sucessos que saíram do monitor: a famosa (agora) Gaga de Ilhéus, que já conseguiu até contrato na TV, a Sônia, que tinha dificuldades em falar o nome do site de hospedagem de vídeos, entre outros. Esses vídeos bateram recordes em cima da falta de conhecimento da nossa população, que mal consegue falar a sua própria língua. Imagine uma língua estrangeira!

Como qualquer um pode colocar um vídeo na internet, existem certas dicas para você se tornar um sucesso:

– Se humilhe;

– Faça algo muito constrangedor, a ponto dos outros sentirem vergonha alheia;

– Seja ridículo em tudo daqui para a frente.

Só assim, porque os inteligentes não sobrevivem na rede.

Redes de TV brasileiras não respeitam nem mortos, o que dirá os vivos…

 

A televisão brasileira vive, desde muito tempo atrás, uma fase horrível. A audiência perdida para outros meios de comunicação fez com que a qualidade, que já era rara, sumisse. Quando ela aparece, pode ter certeza: é apenas temporária.

A coluna do Flávio Ricco trouxe um ocorrido interessante (se é que podemos chamar assim) que aconteceu no Jornal da Band, que é exibido após o Brasil Urgente (que tem como foco “tragédias em geral”):

Terça-feira, no “Jornal da Band”, foi ao ar uma matéria mostrando a preferência de algumas mulheres, que a partir de bancos de esperma preferem ter os seus filhos sem a obrigação de manter relacionamento com o sexo oposto. Até aí…

Acontece que num determinado momento, foi mostrada uma mãe, com a criança de 3 a 4 anos no colo, entre outras coisas dizendo que como não tinha conseguido um homem, escolheu no banco de sêmen a filha que queria: ruiva, olhos negros e de pai estrangeiro –“na minha vida não apareceu um príncipe, apareceu um sapo. E já disse que ela não tem pai. Eu sou o pai e a mãe!”.

Qual a necessidade de expor uma criança, visivelmente constrangida, desse jeito?
Será que a mãe e a própria Bandeirantes têm o direito de escancarar assim a vida de uma pessoa?

Será que alguém pensou nas consequências?

Quem deve ter as respostas para tais e tantas outras questões é o Conselho Tutelar ou qualquer autoridade em zelar pelos direitos da infância e da juventude.

Mas que não foi legal, com toda certeza, não foi.

Isso é uma prova de que o respeito foi superado pelos números do IBOPE. A cobertura das chuvas ultrapassa qualquer limite ou paciência do telespectador. Emissoras dedicam programas inteiros sobre isso. O jornalístico SP Record voltou ao ar por causa da enchente e só muda de assunto quando ocorre algo mais chocante que deva garantir picos altos de audiência. O jornalista José Luís Datena não se priva de sua atração principal: os alagamentos e as pessoas chorando. Privacidade não está no roteiro do programa. A mãe acaba de perder sua casa e seus familiares e já tem repórter fazendo perguntas estúpidas como: “O que a senhora está sentido neste momento?” Outro que não perde a chance de tirar uma lasca da tristeza e do desespero alheio é Gugu Liberato, que apresenta tanta choradeira que quase não nos alegramos quando vemos o prêmio que os protagonistas da infelicidade da vez ganham.

Apesar disto, os vivos ainda tem como se defender. Mas os mortos não. Sônia Abrão, apresentadora do programa A Tarde é Sua (Redetv!), transforma famosos doentes em pauta principal e velórios em espetáculos televisivos. O telespectador que acompanha o programa tem o “privilégio” de ver closes do caixão do falecido. Respeito zero. Isso até fez surgir um movimento no Twitter chamado SoniaAbrãoFacts, com piadas sobre a apresentadora do tipo: 

Sonia Abrão odeia cantar “Atirei o pau no gato” por que o gato não morreu.

Sonia Abrão passou o réveillon em Angra e depois foi curtir o Haiti. ( postado por Luciano Huck)

 

É isso que a TV nos proporciona. Cultura: zero. Informação: manipulada de forma que renda mais, ou em audiência ou em renda. Os produtos de qualidade passam mas logo desaparecem. A microssérie Dalva e Herivelto teve apenas 5 capítulos, pois a Globo, como todas as outras emissoras, não esperava bons resultados. Mas ela foi pega de surpresa e conquistou ótimos índices.

A brilhante minissérie Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor, da autora Maria Adelaide Amaral, rendeu ótimos índices de audiência para a Globo, principalmente em se tratando de um período de férias. Em seu capítulo final, que foi ao ar na noite de sexta-feira (8), a atração deixou a emissora na posição bem confortável de líder: segundo a prévia do Ibope na Grande São Paulo, 31 pontos de média e pico de 33, com 46% de participação.

As TVs só vão mudar se o público mudar e provar para elas que é possível uma TV com qualidade e audiência. Mas enquanto o povo continuar “urubuzando” em frente da TV só vendo lixo, as emissoras não se esforçarão em mudar.