Redes de TV brasileiras não respeitam nem mortos, o que dirá os vivos…

 

A televisão brasileira vive, desde muito tempo atrás, uma fase horrível. A audiência perdida para outros meios de comunicação fez com que a qualidade, que já era rara, sumisse. Quando ela aparece, pode ter certeza: é apenas temporária.

A coluna do Flávio Ricco trouxe um ocorrido interessante (se é que podemos chamar assim) que aconteceu no Jornal da Band, que é exibido após o Brasil Urgente (que tem como foco “tragédias em geral”):

Terça-feira, no “Jornal da Band”, foi ao ar uma matéria mostrando a preferência de algumas mulheres, que a partir de bancos de esperma preferem ter os seus filhos sem a obrigação de manter relacionamento com o sexo oposto. Até aí…

Acontece que num determinado momento, foi mostrada uma mãe, com a criança de 3 a 4 anos no colo, entre outras coisas dizendo que como não tinha conseguido um homem, escolheu no banco de sêmen a filha que queria: ruiva, olhos negros e de pai estrangeiro –“na minha vida não apareceu um príncipe, apareceu um sapo. E já disse que ela não tem pai. Eu sou o pai e a mãe!”.

Qual a necessidade de expor uma criança, visivelmente constrangida, desse jeito?
Será que a mãe e a própria Bandeirantes têm o direito de escancarar assim a vida de uma pessoa?

Será que alguém pensou nas consequências?

Quem deve ter as respostas para tais e tantas outras questões é o Conselho Tutelar ou qualquer autoridade em zelar pelos direitos da infância e da juventude.

Mas que não foi legal, com toda certeza, não foi.

Isso é uma prova de que o respeito foi superado pelos números do IBOPE. A cobertura das chuvas ultrapassa qualquer limite ou paciência do telespectador. Emissoras dedicam programas inteiros sobre isso. O jornalístico SP Record voltou ao ar por causa da enchente e só muda de assunto quando ocorre algo mais chocante que deva garantir picos altos de audiência. O jornalista José Luís Datena não se priva de sua atração principal: os alagamentos e as pessoas chorando. Privacidade não está no roteiro do programa. A mãe acaba de perder sua casa e seus familiares e já tem repórter fazendo perguntas estúpidas como: “O que a senhora está sentido neste momento?” Outro que não perde a chance de tirar uma lasca da tristeza e do desespero alheio é Gugu Liberato, que apresenta tanta choradeira que quase não nos alegramos quando vemos o prêmio que os protagonistas da infelicidade da vez ganham.

Apesar disto, os vivos ainda tem como se defender. Mas os mortos não. Sônia Abrão, apresentadora do programa A Tarde é Sua (Redetv!), transforma famosos doentes em pauta principal e velórios em espetáculos televisivos. O telespectador que acompanha o programa tem o “privilégio” de ver closes do caixão do falecido. Respeito zero. Isso até fez surgir um movimento no Twitter chamado SoniaAbrãoFacts, com piadas sobre a apresentadora do tipo: 

Sonia Abrão odeia cantar “Atirei o pau no gato” por que o gato não morreu.

Sonia Abrão passou o réveillon em Angra e depois foi curtir o Haiti. ( postado por Luciano Huck)

 

É isso que a TV nos proporciona. Cultura: zero. Informação: manipulada de forma que renda mais, ou em audiência ou em renda. Os produtos de qualidade passam mas logo desaparecem. A microssérie Dalva e Herivelto teve apenas 5 capítulos, pois a Globo, como todas as outras emissoras, não esperava bons resultados. Mas ela foi pega de surpresa e conquistou ótimos índices.

A brilhante minissérie Dalva e Herivelto – Uma Canção de Amor, da autora Maria Adelaide Amaral, rendeu ótimos índices de audiência para a Globo, principalmente em se tratando de um período de férias. Em seu capítulo final, que foi ao ar na noite de sexta-feira (8), a atração deixou a emissora na posição bem confortável de líder: segundo a prévia do Ibope na Grande São Paulo, 31 pontos de média e pico de 33, com 46% de participação.

As TVs só vão mudar se o público mudar e provar para elas que é possível uma TV com qualidade e audiência. Mas enquanto o povo continuar “urubuzando” em frente da TV só vendo lixo, as emissoras não se esforçarão em mudar.